terça-feira, 2 de outubro de 2007

UM DIA SEM MIM

Hoje acordei bem cedo, um pouco escuro ainda, os primeiros raios de sol bateram em meu rosto e sem perceber uma lágrima saiu de meus olhos, escorreu até pingar na fronha do travesseiro. Abri e fechei os olhos e ambos estavam cheios d’água; na verdade eu começava a chorar sem entender necessariamente o porquê... Apenas senti o coração apertado, o peito dolorido, minha alma em frangalhos. Senti-me fora de mim, ausente da vida, sufocado com o dia que acabava de começar.

Sentei-me na beirada da cama e curvei-me aos joelhos com as mãos a cabeça, como que em oração. Angustia – era o que eu sentia. Enxuguei as lágrimas e respirei intensamente. Dei passos preguiçosos em direção a janela e me percebi olhando por ela lá embaixo... Não havia nada, não havia ninguém. Agora os raios de sol me cegavam e fechei os olhos por um longo minuto. A tristeza me invadia o corpo. Estremeci dos pés a cabeça e senti um medo profundo. – Afinal o que estava acontecendo comigo? Percebia neste momento que nem meu nome eu me lembrava. – Por quê estou tão triste? Por quê? Dei voltas no quarto me perguntando o porquê disto ou daquilo... Não me lembrava de nada. Não compreendia quão longe eu estava da realidade.

Rodeado em pensamentos que não me levavam a lugar nenhum, tomei a decisão de sair do claustro que se tornava àquele quarto. Eu estava sentado no chão e me levantei apoiando as mãos à parede branca e fria. De pé, caminhei até a porta de madeira e busquei a maçaneta, a girei e tentei puxar inutilmente; a porta não se movia, estava trancada. Inclinei-me e tentei olhar pelo olho da fechadura, – Não via nada, a não ser uma brancura sem fim!

Mais intrigado fiquei! Pois eu estava preso, mas a janela continuava aberta e estava lá no mesmo lugar..., no centro da parede, à altura de minha cintura. Segui pelo mesmo caminho de antes e cheguei até a janela de vidros transparentes; aberta, escancarada a liberdade. Mais uma vez olhei para baixo e nada vi... Nem rua, nem calçada, nem árvore, pássaro ou borboleta, não vi gente, não vi nada. O branco tomava conta de tudo. Ao meu redor eu apenas via a cama, forrada com lençóis brancos e um travesseiro com fronha também branca, um criado mudo com uma vela apagada, paredes... e a porta de madeira trancada. Nada mais!

O desespero tomou conta de mim. Dei murros na parede, até sentir os punhos doloridos, mas não havia sangue, não havia pulso, o coração não batia. Não conseguia entender, porquê eu continuava a sentir... O tato, o corpo, o gosto amargo na boca. Sentia o ar que vinha lá de fora, mas não conseguia sentir a vida! Debrucei-me no parapeito da janela e pensei em pular. Pular no abismo de minha vida para ver aonde isso ia dar. Mas me contive, tive medo.

Acho que esse é o problema: tenho medo de viver! Voltei à cama e deitei. Refleti, pensei, e criei coragem... E com um grande impulso sai da cama e corri até a janela, pulei... e dei um grito estridente. –Não foi de medo, foi de puro êxtase e de muita alegria. Enfim acordei! Acordei para o mundo, para a vida! Acordei para a luz do amanhã e para o hoje. E prometi a mim mesmo, nunca mais passar um dia sem ninguém, nunca mais passar um dia sem mim.
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Por Diogo Damasceno Pires
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* Escrito em 27 de janeiro de 2005.

2 comentários:

Anônimo disse...

Menino de Deus, o que dizer, vc sempre me deixa sem ar, sem palavras, muda de forma inquieta. Extasiada!!!!!!!!!!!!!!!!! Sinto cada palavra, cada gesto, como se tivesse vivido, sentido cada nuance. Os detalhes se entrelaçam como uma colcha de retalho amavelmente costura à mão. O que dizer: amei, amei, amei. Muito lindo. Nosso mundo globalizado, impessoal, frio, cibernético, precisa de pessoas como vc: POÉTICAS, AMANTES DA VIDA, DO SER PLENO............. Bjão Maura...

A rede de educação ambiental de goias disse...

Hoje senti saudade do que escrevi há tanto tempo, que mal me lembrava dos dramas, angústias e esperanças próprios da adolescência, mas ainda tão reais no mundo dos adultos.