segunda-feira, 20 de novembro de 2017

A trilha dos Troninhos


Bem cedinho, com a luz do sol ainda por despontar sobre a cabeça eu fazia a trilha para a Cachoeirinha dos Troninhos. Caminhei, pensando na vida e em seus mistérios, pisando descalço e sentindo o solo enraizar por entre os dedos... Um ecossistema inteiro com formigas trabalhando, pássaros cantando, calangos, roedores, insetos e borboletas colorindo o caminho.

A cada novo passo, sentindo o frescor da mata, que ia se adensando e se fechando entre copas de um portal de árvores cada vez mais frondosas e acolhedoras, cobrindo parcialmente o sol, lançando sombras e penumbras na trilha, mas também deixando escapar feixes de luz verde, (re)energizando o corpo e a alma.

Respiro, inspiro, sigo caminhando com passos leves, descobrindo pequenas belezas, sutilezas, que só a natureza ainda preservada pode oferecer... Uma flor, um regato d'água , uma árvore, pedras sendo desenhadas pelo tempo. Nada como caminhar os sagrados 15 minutos de trilha para ser contemplado com o pote de ouro no fim do arco íris, neste caso, o Rio das Almas.

Percorrer o caminho é uma necessidade premente e imediata, que acalma e acalenta o coração. Avisto de longe a clareira, onde moram pedras queimadas pelas inúmeras fogueiras feitas no local. Ao seu redor, algumas barracas, ainda por despertar, cheias de orvalho, reinam silenciosas. Transpasso o caminho quase sem deixar pegadas e finalmente me encontro com os sagrados tronos de pedra, dispostos um ao lado do outro, margeando o rio.

Ao me sentar no meu trono preferido, coberto levemente pelas folhas de uma pequena árvore do cerrado, sou lançado a escrutinar e contemplar as águas, as pedras, o balanço das árvores, o burburinho da mata, o céu cada vez mais claro, o frescor da vida. Primeiro, deixando os pensamentos fluírem numa só torrente: as saudades invadindo, a gratidão pelas conquistas, os percalços da lida, os planos e as possíveis soluções.

Manuseio e trabalho a planta para preencher o pulmão, consagrar a energia vibrante que alimenta a alma, inebria e desanuvia ao mesmo tempo. Reflexão. Meditação. Hora perfeita para treinar a mente, mentalizar um ponto de conforto e aconchego. Penso estar entre nuvens de algodão, caminhando com leveza, dando pequenos saltos entre uma e outra e assim, controlando e observando a respiração. Até limpar a mente, encontrando o vazio e a solitude necessária na busca pela paz interior.

Depois de um tempo, finalmente decido fazer um salto na Cachoeirinha para completar o ciclo, deixando a água fria me invadir e descolar a alma por alguns milésimos de segundos num mergulho profundo e revigorante. Mergulhando de corpo e alma, sem ressalvas, deixando fluir, me encontrando... Com os ouvidos submersos e a flutuar, relaxando completamente, plenamente! Aproveitando cada sensação, cada percepção. Conexão.

Gratidão. A mãe terra, ao todo e a tod@s! Pela caminhada, pelo percurso, pelo aprendizado constante. Sempre um dia de cada vez. Mas enfim, hora de voltar para a realidade, com uma nova certeza no olhar, pronto para (re)fazer o caminho, (re)planejar o dia e (re)agir na vida, já que ela ensina, onde todos somos aprendizes.

19 de novembro, Pirenópolis. Por Diogo Damasceno.

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