segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Senhora

Acabo de entrar. Vejo pelo vão da porta que ainda estais no espelho. Tão bela senhora, que envelhece sorrindo e cantando admirada com os reflexos da luz que vez ou outra lhe aparecem... E em geral, percebo – este é o momento que corta a monotonia, mexe com o seu cotidiano.

Presa no espelho vive a tal senhora de cabelos compridos e acinzentados, que com os dedos – diariamente – penteia seus longos cachos; embora o tempo não faça muito sentido, já que a noite e o dia lhe passam indiferentes... Há não ser mesmo quando entro para lhe fazer uma visita. Coisa de cortesia.

Sei que sou um dos poucos, mas também vez ou outra, um passante desavisado resolve lhe fazer uma visita. E só nestes momentos é que a senhora enxerga a luz, que vem de fora, pela fresta da porta.

Seus olhos azuis, profundos, ainda brilham como nenhum outro que eu já tenha visto. E seu olhar é envolvente, certeiro, cativante. E assim me perco, passo horas à olhando, compenetrado. A senhora nos ensina sem falar. Nos fala só com o olhar.

Pensando no futuro, que este afinal a Deus pertence – aliás, assim como o presente, embora neste caso eu me sinta mais condutor do que conduzido na trilha da vida. E assim, passando horas de frente ao espelho, buscando abstrair solução para os problemas mais vis, para as dificuldades de outrora.

Ah, minha senhora... obrigado pela companhia, pelo aprendizado de estar com vez, mesmo que só as vezes, mesmo que só de vez enquando. Da minha parte prometo... continuar lhe visitando se assim me permitir.

Até mais ver... até mais ver...



Por Diogo Damasceno Pires
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Escrito em 02 de novembro de 2007

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