Outro dia, me vi fora de mim, em outro mundo qualquer... rindo para as paredes e me divertindo como nunca. À mesa, estavam quatro figuras: uma de saia, os outros de coturno; mas pouco fazia diferença, já que estes eram democraticamente livres de qualquer suspeita.
Tocava ao fundo uma moda da casa, com batidas e vocais populares, embora nem todos soubessem de cor as canções, num só ritmo cantavam os refrães. Aos poucos dançavam e contagiavam ao seu redor sem se preocupar com a atenção que lhes era dirigida pelos conviventes locais.
Mas, chega a hora que tudo acaba inclusive a vodka. Fechado os portões, cambaleantes como nunca, seguimos a pé pela calçada em direção ao carro, transporte com portas e janelas, que mal cabem os que querem entrar. Eu no volante, portas trancadas... Um fica de fora sem autorização para entrar... mas como a noite ainda é pequena, resolvo lhe dar uma chance, de no teto do carro se agarrar, abrir as asas e voar.
O pássaro tão pouco voa, mas a alegria é contagiante, como realmente deveria ser. Não por acaso, encontramos os quatro, outro cabaré aberto. No entanto foi lá, que fiz o que não sei e tão pouco quero saber. Pois o que fiz e não lembro, com certeza não deve ser verdade.
Mas, insistem em dizer, que estive muito a vontade, pelos corredores apertados, bebendo e sugando, nos copos de estranhos e que estranho eu me encontrava, afanando beijos e cego, tocando em seres, em braille corporal.
Tomado como fora de mim, decidi, decidir, voltar para o meu mundo e tentar me encontrar. Deixar os que me faziam rir, para ir gozar em outro lugar. Acompanhando-me (à loira), de mim tomou as rédeas e mesmo sem saber cavalgar, esteve a me guiar.
Pulsando o crânio, num sonho irreal, cuspi a alma e o álcool do estômago em pequenas golfadas, irrompendo entranhas e logo dormindo como criança, ressonando no burburinho da cidade que acabava de acordar.
Eu, lá pelas tantas, com o sol aberto e o suor gotejando, como vim ao mundo e com a cabeça a latejar, estive a pensar, o que fizera eu, para estar naquele lugar.
“Bom dia” me disse ela. Olhei bem dentro dos seus olhos e a reconheci... “Bom, nem tudo foi sonho afinal” decidi. Sentamos à mesa e meu mundo ainda girava, mas feliz eu estava, de viver e rir sem sentido e poder contar histórias... já que, só se conta histórias quem as tem para contar.
Por Diogo Damasceno Pires em 6 de abril de 2011.
Um comentário:
Quem te viu, quem te vê. Sei que o Sr. anda passeando por muitos lugares "diferentes", pois bem, caro amigo, é preciso cuidado. Nem tudo é diversão.
Mas gostei muito de seu texto.
Grande Abraço.
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